Chamem-me doida mas 2010 foi um grande ano.
Chego ao fim viva (deixem-me bater na madeira que ainda tenho que atravessar a Vasco da Gama mais três vezes), com a saúde a aprumar-se e com mais amigos do que tinha há um ano atrás.
Chego serena, feliz e animada. Chego com o orgulho de quem venceu a maior batalha da vida, mesmo sem o saber. Chego com a certeza que perspectivar é o mais certo.
Comecei este blog a dizer que num instante tudo muda. E é verdade. Mas é para melhor.
Um abraço apertado. E como dizia a outra, o que lá vai lá vem. Bom 2011 :)
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
1ª consulta pós-tratamentos de choque
Análises - ok
Citigrafia óssea - ok
Aspecto geral - ok (tás com muito bom aspecto, pá! palavras da médica.)
Mama em particular - ok (espectáculo! Nem parece que foste operada! Novamente, palavras da médica. Só estou a reproduzir)
Conclusões:
Melhor era impossível.
Próximas etapas:
Exames (muitos, muitos, daqueles mesmo assim a sério) em Dezembro.
Até lá, vou à minha vida.
Análises - ok
Citigrafia óssea - ok
Aspecto geral - ok (tás com muito bom aspecto, pá! palavras da médica.)
Mama em particular - ok (espectáculo! Nem parece que foste operada! Novamente, palavras da médica. Só estou a reproduzir)
Conclusões:
Melhor era impossível.
Próximas etapas:
Exames (muitos, muitos, daqueles mesmo assim a sério) em Dezembro.
Até lá, vou à minha vida.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Bom, chegou o tempo das lamechices. O tempo de agradecer aos anjos que caminharam comigo ao longo destes meses. Aconteça o que acontecer daqui para frente, o tempo que passou já está lá atrás. Inesquecível mas ultrapassável. Graças a vocês.
Aqui ficam alguns agradecimentos mais específicos (maninha, vais ter que mostrar isto à mãe e ao pai. Duvido que consigam ir sozinhos à internet…):
Para a mãe e para o pai:
Obrigada pelas noites sem dormir; obrigada pelas sopas; obrigada pelos mimos; obrigada pela companhia nos tratamentos; obrigada pela paciência; obrigada por me aturarem nos dias em que estava impossível; obrigada pelo conforto; obrigada pelo incentivo; obrigada pela força; obrigada por acreditarem que eu sou capaz.
Para a maninha:
Obrigada pelos lenços que me emprestaste; obrigada por me levares a passear; obrigada por me acolheres em momentos menos bons; obrigada por seres sempre positiva e optimista; obrigada por dizeres que ficava bem com o cabelo rapado quando eu sei que foste chorar para o quarto.
Para o cunhadinho:
Obrigada pela boa-disposição; obrigada pelos beijos na testa; obrigada pela máquina de cortar o cabelo; obrigada pela paciência; obrigada pelos braços sempre abertos.
Para o xubidu:
Obrigada por me chamares Zidane; obrigada por ires comigo ao cinema; obrigada por me fazeres rir quando finges que és uma moldura; obrigada por me deixares fazeres os teus legos; obrigada por dizeres que jogo bem à bola; obrigada por inventares músicas parvas com a tia; obrigada por me chamares xubidua; obrigada por te agarres ao meu pescoço sempre que me vês.
Para a xubidoca:
Obrigada por teres nascido num momento feio e teres mudado tudo; obrigada por sorrires tanto; obrigada pelo cafuné; obrigada por seres tão fofa.
Aqui só estão 32 obrigadas. Não chegam. Todos os obrigadas do mundo não chegam. Se não fossem vocês e por vocês… É por estas e por outras que vos amo assim… tanto, tanto…
Aqui ficam alguns agradecimentos mais específicos (maninha, vais ter que mostrar isto à mãe e ao pai. Duvido que consigam ir sozinhos à internet…):
Para a mãe e para o pai:
Obrigada pelas noites sem dormir; obrigada pelas sopas; obrigada pelos mimos; obrigada pela companhia nos tratamentos; obrigada pela paciência; obrigada por me aturarem nos dias em que estava impossível; obrigada pelo conforto; obrigada pelo incentivo; obrigada pela força; obrigada por acreditarem que eu sou capaz.
Para a maninha:
Obrigada pelos lenços que me emprestaste; obrigada por me levares a passear; obrigada por me acolheres em momentos menos bons; obrigada por seres sempre positiva e optimista; obrigada por dizeres que ficava bem com o cabelo rapado quando eu sei que foste chorar para o quarto.
Para o cunhadinho:
Obrigada pela boa-disposição; obrigada pelos beijos na testa; obrigada pela máquina de cortar o cabelo; obrigada pela paciência; obrigada pelos braços sempre abertos.
Para o xubidu:
Obrigada por me chamares Zidane; obrigada por ires comigo ao cinema; obrigada por me fazeres rir quando finges que és uma moldura; obrigada por me deixares fazeres os teus legos; obrigada por dizeres que jogo bem à bola; obrigada por inventares músicas parvas com a tia; obrigada por me chamares xubidua; obrigada por te agarres ao meu pescoço sempre que me vês.
Para a xubidoca:
Obrigada por teres nascido num momento feio e teres mudado tudo; obrigada por sorrires tanto; obrigada pelo cafuné; obrigada por seres tão fofa.
Aqui só estão 32 obrigadas. Não chegam. Todos os obrigadas do mundo não chegam. Se não fossem vocês e por vocês… É por estas e por outras que vos amo assim… tanto, tanto…
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Nove meses depois, a vida parece voltar, tranquila, ao normal. Se por um lado me fazem falta as rotinas, também as anseio com alguma desconfiança. Vivo com um corpo que me traiu, ou que foi traído por mim, ainda não percebi bem, e por isso olho para o dia a seguir com algum medo. Mas é um medo bom, daquele que nos põe borboletas na barriga e nos faz ter vontade de tudo.
Amanhã, se o meu corpo quiser, volto ao trânsito, ao metro apinhado, ao barulho da máquina do café, às conversas de secretária. Amanhã, se o meu corpo quiser, recomeço a vida no ponto em que a deixei, lá atrás, num dia frio em que usava um lenço ao pescoço. Por ironia, um lenço cor-de-rosa. Amanhã, se o meu corpo quiser, vou começar, lentamente, a esquecer mas sem nunca, nunca, deixar de me lembrar. E eu acho que o meu corpo vai querer…
Amanhã, se o meu corpo quiser, volto ao trânsito, ao metro apinhado, ao barulho da máquina do café, às conversas de secretária. Amanhã, se o meu corpo quiser, recomeço a vida no ponto em que a deixei, lá atrás, num dia frio em que usava um lenço ao pescoço. Por ironia, um lenço cor-de-rosa. Amanhã, se o meu corpo quiser, vou começar, lentamente, a esquecer mas sem nunca, nunca, deixar de me lembrar. E eu acho que o meu corpo vai querer…
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
O cansaço começa a afectar-me de uma forma que ainda não tinha sentido até aqui. Não é só o corpo. É a cabeça. E a alma.
Talvez tenha trocado as prioridades ao longo deste processo todo. Talvez tenha empenhado tempo que deveria ter, única exclusivamente, gasto em mim. O problema é que, se isto não passar, tudo o resto vai continuar no seu ciclo normal. Eu é que não.
E depois não são só as marcas nas veias, as cicatrizes, a pele queimada, os braços que doem. Depois, é tudo aquilo que está cá dentro e que ninguém vê. Só eu sinto.
Talvez tenha trocado as prioridades ao longo deste processo todo. Talvez tenha empenhado tempo que deveria ter, única exclusivamente, gasto em mim. O problema é que, se isto não passar, tudo o resto vai continuar no seu ciclo normal. Eu é que não.
E depois não são só as marcas nas veias, as cicatrizes, a pele queimada, os braços que doem. Depois, é tudo aquilo que está cá dentro e que ninguém vê. Só eu sinto.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Vou na minha 8ª sessão de radioterapia. A maioria dos técnicos do hospital onde a faço é do sexo feminino. Só há dois homens. Um deles bastante engraçado. Sempre que o apanho numa sessão começo a pensar: “ora cá estou eu, nua da cintura para cima, com um senhor giro a olhar para mim”.
Nada constrangedor, portanto…
Nada constrangedor, portanto…
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Já comecei a radioterapia. Uma experiência interessante e estranha esta de ter parte do meu corpo a ser bombardeado com protões e fotões. Eu, que nunca gostei de física…
Bom, quem anda metido nestas andanças sabe que entre a quimio e a rádio não há comparação possível. O que não faz desta última uma coisa agradável. Desenganem-se. A mama já se anda a queixar. É muita radioactividade junta. E o pior é que pensei que isto me desse alguns poderes de super herói. Mas não. Só mesmo dores.
Bom, quem anda metido nestas andanças sabe que entre a quimio e a rádio não há comparação possível. O que não faz desta última uma coisa agradável. Desenganem-se. A mama já se anda a queixar. É muita radioactividade junta. E o pior é que pensei que isto me desse alguns poderes de super herói. Mas não. Só mesmo dores.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Daqui a pouco faço o meu último tratamento de quimioterapia. Pelo menos espero que assim seja. Foram seis meses muito violentos. Que me sugaram, em momentos, tudo o que de precioso tenho dentro de mim. Tão violentos que me roubaram as forças, a energia e, às vezes, a capacidade de ver o mundo noutra cor que não a sépia. Mas foi só às vezes…
Na maior parte dos dias, tenho sempre quem puxe por mim. Quem me dê um mimo. Quem me dê um grito. Quem me diga que não há hipótese de desistir. Quem em olhe nos olhos e veja um futuro claro, limpo e cheio de emoções. Boas.
Algumas dessas pessoas trabalham no hospital onde tenho sido acompanhada. Os médicos, os assistentes, até as senhoras da secretaria. Mas os verdadeiros anjos estão na sala de tratamentos. São as enfermeiras. Que nos dão os remédios que nos vão curar. Que nos dão os rebuçados para tirarmos o amargo da boca e da alma. Que nos pedem desculpa sempre que nos picam. Que nos emprestam livros. Que sorriem sempre que lá entramos.
Não há forma de se agradecer a anjos assim.
A única coisa que posso fazer é ficar boa.
Na maior parte dos dias, tenho sempre quem puxe por mim. Quem me dê um mimo. Quem me dê um grito. Quem me diga que não há hipótese de desistir. Quem em olhe nos olhos e veja um futuro claro, limpo e cheio de emoções. Boas.
Algumas dessas pessoas trabalham no hospital onde tenho sido acompanhada. Os médicos, os assistentes, até as senhoras da secretaria. Mas os verdadeiros anjos estão na sala de tratamentos. São as enfermeiras. Que nos dão os remédios que nos vão curar. Que nos dão os rebuçados para tirarmos o amargo da boca e da alma. Que nos pedem desculpa sempre que nos picam. Que nos emprestam livros. Que sorriem sempre que lá entramos.
Não há forma de se agradecer a anjos assim.
A única coisa que posso fazer é ficar boa.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Sabiam que cada tratamento de quimioterapia ronda os 3 mil euros?! Tendo em conta que já fiz 14 e ainda me falta fazer mais um, já levei do estado 45 mil euros. Não contando a operação. Pimbas!
Agora só quero saber se o estado também me vai pagar a lipoaspiração que eu vou precisar de fazer para tirar estes quilos que acumulei graças às doses maciças de cortisona que me têm andado a injectar. Ah, pois é…
Agora só quero saber se o estado também me vai pagar a lipoaspiração que eu vou precisar de fazer para tirar estes quilos que acumulei graças às doses maciças de cortisona que me têm andado a injectar. Ah, pois é…
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Ontem fui submetida a uma junta médica que avaliou o meu estado de saúde. Segundo eles, tenho uma desvalorização de 60%. Ora, isto, confesso, causa-me alguma “espécie”. Desvalorização de quê? Do corpo? Do espírito? Das capacidades intelectuais?
Senti-me um bocado como um T2 em segunda mão na margem sul a ser visto pelo senhor do banco. “Eh pá, isto tem aqui uns problemas de canalização, a pintura também não está grande coisa, sem garagem…, bom vou ter que lhe dar 60% de desvalorização em relação ao preço inicial de compra”.
É claro que agora vou ter muito mais dificuldades em arranjar quem me “compre”, metaforicamente falando, claro. De qualquer forma, é estupidamente deprimente alguém nos dizer, aos 35 anos de idade, que valemos menos 60% daquilo que valíamos. “Mas tens vantagens fiscais”, dizem algumas vozes entusiasmadas.
Pois. Preferia continuar a pagar IRS todos os anos.
Senti-me um bocado como um T2 em segunda mão na margem sul a ser visto pelo senhor do banco. “Eh pá, isto tem aqui uns problemas de canalização, a pintura também não está grande coisa, sem garagem…, bom vou ter que lhe dar 60% de desvalorização em relação ao preço inicial de compra”.
É claro que agora vou ter muito mais dificuldades em arranjar quem me “compre”, metaforicamente falando, claro. De qualquer forma, é estupidamente deprimente alguém nos dizer, aos 35 anos de idade, que valemos menos 60% daquilo que valíamos. “Mas tens vantagens fiscais”, dizem algumas vozes entusiasmadas.
Pois. Preferia continuar a pagar IRS todos os anos.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
A Tília, uma das enfermeiras que me atura nas sessões semanais de quimioterapia, emprestou-me um livro de um jornalista que passou pela experiência de ter um cancro. Seria um livro ao qual não acharia particular piada noutra qualquer fase da minha vida. Mas nesta acho. Lia ontem a seguinte frase: ”Sinto que estou a caminho de uma coisa maior na minha vida. Mas para lá chegar terei que passar por um grande sofrimento”.
Há dias em que é isto que sinto também. O que é estranho porque se há coisa que eu aprendi foi a não fazer planos. Normalmente, falham todos. Desisti de os fazer. Que coisa é esta maior para a qual caminho? Não sei… sei que ela vai lá estar. Quando e se chegar ao fim da tormenta.
Quem passa pela tortura de ter um cancro merece um prémio. Sem falsos pretensiosismos. E esse prémio pode bem ser a coisa maior que já nos aconteceu na vida.
Há dias em que é isto que sinto também. O que é estranho porque se há coisa que eu aprendi foi a não fazer planos. Normalmente, falham todos. Desisti de os fazer. Que coisa é esta maior para a qual caminho? Não sei… sei que ela vai lá estar. Quando e se chegar ao fim da tormenta.
Quem passa pela tortura de ter um cancro merece um prémio. Sem falsos pretensiosismos. E esse prémio pode bem ser a coisa maior que já nos aconteceu na vida.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Bom, hoje cheguei a meio do caminho.
Quando fazemos uma viagem, esta é uma parte que sabe sempre bem. Já andámos muito, ainda falta outro tanto mas sentimos que vamos em direcção a algum lado. E isso sabe muito bem.
Restam 6 tratamentos de quimio. Depois ainda há-de vir a radio. Mas essa é uma outra viagem. Para já, tenho que me concentrar no que falta desta. Arranjar o farnel, carregar o GPS, escolher os cd's e ter o mapa à mão.
Daqui a um mês e meio devo ter chegado ao destino. A este destino, pelo menos. Depois, que venha a próxima viagem.
Quando fazemos uma viagem, esta é uma parte que sabe sempre bem. Já andámos muito, ainda falta outro tanto mas sentimos que vamos em direcção a algum lado. E isso sabe muito bem.
Restam 6 tratamentos de quimio. Depois ainda há-de vir a radio. Mas essa é uma outra viagem. Para já, tenho que me concentrar no que falta desta. Arranjar o farnel, carregar o GPS, escolher os cd's e ter o mapa à mão.
Daqui a um mês e meio devo ter chegado ao destino. A este destino, pelo menos. Depois, que venha a próxima viagem.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
quarta-feira, 28 de abril de 2010
terça-feira, 27 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
sábado, 17 de abril de 2010
É estranho viver com um cancro. A certa altura é algo que faz permanentemente parte de nós. Não é tanto a dor física ou a ausência de saúde que me indignam. É sim o facto de ter em mim algo que não pedi, não quis e não desejei. Sequelas da vida, talvez... mas injustas numa altura em que respirar fazia de novo sentido.
Com o passar dos dias vejo que sobrevivo numa espécie de casulo. Fechada, protegida, à espera. Não sei de quê. Chegado o fim do percurso, é bem possível que ele ainda aqui esteja. E eu vou perdendo dias. Cada vez mais longe daquilo que é meu, que quero, que sou. Há momentos em que não basta encher o peito de ar e acreditar que "vai ficar tudo bem". Nunca mais vai ficar tudo bem. Houve um dia, um instante, em que tudo mudou. Para nunca mais ser igual...
Com o passar dos dias vejo que sobrevivo numa espécie de casulo. Fechada, protegida, à espera. Não sei de quê. Chegado o fim do percurso, é bem possível que ele ainda aqui esteja. E eu vou perdendo dias. Cada vez mais longe daquilo que é meu, que quero, que sou. Há momentos em que não basta encher o peito de ar e acreditar que "vai ficar tudo bem". Nunca mais vai ficar tudo bem. Houve um dia, um instante, em que tudo mudou. Para nunca mais ser igual...
terça-feira, 13 de abril de 2010
quinta-feira, 8 de abril de 2010
quarta-feira, 7 de abril de 2010
sexta-feira, 2 de abril de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
Entendo cada vez melhor a necessidade constante que o universo tem de encontrar equilibrios.
Depois de um fim-de-semana feliz, que passei com amizades de toda uma vida, sou atirada à cama com febre. Que ninguém soube explicar de onde vinha. Nem mesmo as habituais e extensas análises pré-quimio. Uma febre que me impediu de fazer o 3º tratamento, o último da 1ª ronda. Uma febre que me atrasou a vida em mais uma semana.
E sendo assim, entendo cada vez melhor a necessidade constante que o universo tem de encontrar equilibrios. Para compensar alguns momentos de felicidade, tenho que aceitar outros de tristeza. É o equilíbrio.
Depois de um fim-de-semana feliz, que passei com amizades de toda uma vida, sou atirada à cama com febre. Que ninguém soube explicar de onde vinha. Nem mesmo as habituais e extensas análises pré-quimio. Uma febre que me impediu de fazer o 3º tratamento, o último da 1ª ronda. Uma febre que me atrasou a vida em mais uma semana.
E sendo assim, entendo cada vez melhor a necessidade constante que o universo tem de encontrar equilibrios. Para compensar alguns momentos de felicidade, tenho que aceitar outros de tristeza. É o equilíbrio.
domingo, 14 de março de 2010
quarta-feira, 10 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Prós de estar careca:
1) Descobri sinais que nem sabia que existiam;
2) Deixei de usar shampoo e amaciadores e máscaras e essas coisas todas;
3) O meu sobrinho diz que eu pareço o Zidane
Contras de estar careca:
1) Veêm-se os cabelos brancos todos, doidos para nascer;
2) O frio;
3) O meu sobrinho diz que eu pareço o Zidane
1) Descobri sinais que nem sabia que existiam;
2) Deixei de usar shampoo e amaciadores e máscaras e essas coisas todas;
3) O meu sobrinho diz que eu pareço o Zidane
Contras de estar careca:
1) Veêm-se os cabelos brancos todos, doidos para nascer;
2) O frio;
3) O meu sobrinho diz que eu pareço o Zidane
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Sempre gostei de cinema e sempre achei que podia ser uma boa actriz.
A verdade é que tudo isto se começa a unir numa ideia que não me parece, de todo, descabida.
Ou seja, desde que comecei a fazer quimioterapia que o meu corpo está em constante mutação.
Hoje acordei com a cabeça cheia de altos. Sinto-me por isso apta a desempenhar o papel de protagonista de um qualquer filme de ficção científica. Até vou rapar o cabelo e tudo. Ou pensam que só a Sigourney Weaver é que consegue fazer cenas dessas??!!!
A verdade é que tudo isto se começa a unir numa ideia que não me parece, de todo, descabida.
Ou seja, desde que comecei a fazer quimioterapia que o meu corpo está em constante mutação.
Hoje acordei com a cabeça cheia de altos. Sinto-me por isso apta a desempenhar o papel de protagonista de um qualquer filme de ficção científica. Até vou rapar o cabelo e tudo. Ou pensam que só a Sigourney Weaver é que consegue fazer cenas dessas??!!!
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
sábado, 30 de janeiro de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Estas duas semanas têm custado a passar.
Bem tento que o tempo ande mais rápido mas não consigo.
E depois ainda vieram umas dores de garganta e uma constipação gigante que não me deixou nada sexy.
E dói-me o braço...
Sinto-me uma daquelas velhas que vai para o centro de saúde sem ter consulta marcada queixar-se das maleitas que tem.
Bem tento que o tempo ande mais rápido mas não consigo.
E depois ainda vieram umas dores de garganta e uma constipação gigante que não me deixou nada sexy.
E dói-me o braço...
Sinto-me uma daquelas velhas que vai para o centro de saúde sem ter consulta marcada queixar-se das maleitas que tem.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
2ª parte
Depois do impacto inicial, o meu sobrinho já me diz que estou parecida com a Leonor da telenovela Perfeito Coração.
Parece que ele adora essa Leonor.
Logo, não a achará feia.
Logo, eu não estou feia.
No fundo, ele só me queria mesmo era chatear.
Tramado, o puto...
Parece que ele adora essa Leonor.
Logo, não a achará feia.
Logo, eu não estou feia.
No fundo, ele só me queria mesmo era chatear.
Tramado, o puto...
1ª parte
Cortei o cabelo. Muito cabelo. O meu sobrinho olhou para mim com desdém e disse: "estás feia, tia".
E eu a pensar "e ainda tu não me viste careca..."
Vai ser bonito vai...
E eu a pensar "e ainda tu não me viste careca..."
Vai ser bonito vai...
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Hoje vou cortar o cabelo. Pensei em rapar já mas achei que deveria ser um pouco menos radical.
Por isso, vou só cortar curtinho. E vou pintar. É dinheiro bem gasto tendo em conta que isto vai cair tudo daqui a 2 ou 3 semanas.
Como vêm, a minha vida está repleta de decisões importantes e de momentos cruciais...
Como é que as pessoas conseguem ser fúteis? Estou assim há 2 dias e já não me aguento!
Por isso, vou só cortar curtinho. E vou pintar. É dinheiro bem gasto tendo em conta que isto vai cair tudo daqui a 2 ou 3 semanas.
Como vêm, a minha vida está repleta de decisões importantes e de momentos cruciais...
Como é que as pessoas conseguem ser fúteis? Estou assim há 2 dias e já não me aguento!
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Tenho consulta de oncologia dia 1 de Fevereiro.
Entretanto, e devido ao excesso de tempo livre, andei a pesquisar coisas sobre quimioterapia. O que é ao certo, como se faz, os efeitos, etc. E ainda nem comecei a fazer e já sinto alguns cabelos a cair!
Deixo-vos aqui um aviso: se se poderem entreter com outras coisas, não façam quimioterapia!
Entretanto, e devido ao excesso de tempo livre, andei a pesquisar coisas sobre quimioterapia. O que é ao certo, como se faz, os efeitos, etc. E ainda nem comecei a fazer e já sinto alguns cabelos a cair!
Deixo-vos aqui um aviso: se se poderem entreter com outras coisas, não façam quimioterapia!
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Vieram os resultados. Os gânglios estão limpos. O que é bom. O cancro não se espalhou.
O mau é que tudo indica que vou ter que fazer quimioterapia.
E como a ansiedade é uma coisa boa e que faz bem, agora aguardo uma consulta de oncologia.
Só aí saberei ao certo que tratamento irei fazer e quando vou começar.
E assim se passam se os dias...
O mau é que tudo indica que vou ter que fazer quimioterapia.
E como a ansiedade é uma coisa boa e que faz bem, agora aguardo uma consulta de oncologia.
Só aí saberei ao certo que tratamento irei fazer e quando vou começar.
E assim se passam se os dias...
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
11 de Janeiro de 2010
Recebi agora um telefonema do hospital.
Amanhã tenho que lá ir para falar com a médica.
Já tou cheia de nervos e ansiedades!
Amanhã tenho que lá ir para falar com a médica.
Já tou cheia de nervos e ansiedades!
domingo, 10 de janeiro de 2010
6 de Janeiro de 2010
Os resultados não vieram.
Deve ter sido por causa das festas.
O cancro pode esperar. Mais uma semana.
Deve ter sido por causa das festas.
O cancro pode esperar. Mais uma semana.
5 de Janeiro de 2010
Amanhã de manhã vou ao hospital.
A minha mãe perguntou-me se estou ansiosa e eu disse-lhe que estou, muito.
Ela pensa que é por causa dos resultados. Mas não.
É mesmo por causa do médico jeitoso.
A minha mãe perguntou-me se estou ansiosa e eu disse-lhe que estou, muito.
Ela pensa que é por causa dos resultados. Mas não.
É mesmo por causa do médico jeitoso.
4 de Janeiro de 2010
Agora tenho insónias. Não consigo dormir mais de cinco horas por dia.
Espectacular para quem tem que estar em casa 24 horas por dia e pouco ou nada pode fazer.
Bai-me à benda!
Espectacular para quem tem que estar em casa 24 horas por dia e pouco ou nada pode fazer.
Bai-me à benda!
3 de Janeiro de 2010
Vou ter que esperar mais três dias para saber o tratamento que vou fazer.
Além do tumor, tiraram-me mais qualquer coisa à volta. Foi isso que foi para analisar.
É isso que me vai dizer se o cancro foi totalmente retirado ou se há amiguinhos novos.
É isso que me vai dizer se começo a caminhar em frente ou se voltei um bocadinho atrás...
Além do tumor, tiraram-me mais qualquer coisa à volta. Foi isso que foi para analisar.
É isso que me vai dizer se o cancro foi totalmente retirado ou se há amiguinhos novos.
É isso que me vai dizer se começo a caminhar em frente ou se voltei um bocadinho atrás...
1 de Janeiro de 2010
Primeiro dia do ano.
Nada de especial.
O natal e a passagem de ano foram momentos estranhos.
Senti-me bem ainda que atordoada, de quando em vez, pela tristeza.
Isto porque pensei, várias vezes, se para o ano haverá natal...
Nada de especial.
O natal e a passagem de ano foram momentos estranhos.
Senti-me bem ainda que atordoada, de quando em vez, pela tristeza.
Isto porque pensei, várias vezes, se para o ano haverá natal...
24 de Dezembro de 2009 - 4ª parte
22.54h - Derrotados pelo cansaço mental de ouvir repetidamente a expressão "já é meia-noite", cedemos.
Vai lá abrir as prendas!
Vai lá abrir as prendas!
24 de Dezembro de 2009 - 3ª parte
21.47h e o meu sobrinho continua a perguntar se já é meia-noite, de 5 em 5 minutos.
24 de Dezembro de 2009 - 2ª parte
Noite de Natal.
Desde as 20.30h que o meu sobrinho me pergunta, de 5 em 5 minutos, se já é meia-noite.
Desde as 20.30h que o meu sobrinho me pergunta, de 5 em 5 minutos, se já é meia-noite.
sábado, 9 de janeiro de 2010
24 de Dezembro de 2009 - 1ª parte
Tenho tido, ao longo da vida, alguns atritos com a fé. Já a tive, depois perdi, voltei a ter e, de há uns anos para cá, acho que a perdi definitivamente. Divorciamo-nos. Muita gente, desde que estou doente, me tem dito para eu rezar, acreditar que deus me vai ajudar e ter muita fé.
Bom, eu tenho fé na minha família e nos meus amigos.
E estes sim, merecem que eu tenha em mim fé suficiente para me curar.
Bom, eu tenho fé na minha família e nos meus amigos.
E estes sim, merecem que eu tenha em mim fé suficiente para me curar.
22 de Dezembro de 2009 - 2ª parte
Afinal parece que não existem velas em forma de mama. Já mandei um mail para o santuário.
Para compensar, o amigo dos meus pais colocou uma de formato normal de tamanho exagerado.
Não é a mesma coisa mas... obrigada Luís.
Para compensar, o amigo dos meus pais colocou uma de formato normal de tamanho exagerado.
Não é a mesma coisa mas... obrigada Luís.
22 de Dezembro de 2009 - 1ª parte
Hoje ligou-me um grande amigo dos meus pais. Está a caminho de Fátima, a pé como convém senão a nossa senhora não acude, mesmo a terminar a subida da Serra dos Candeeiros.
Também ele já teve um cancro e curou-se. Por isso, usa frequentemente a expressão "ter um cancro é como limpar o rabo a bebés". Desagradável, portanto.
Disse-me que quando chegar ao santuário vai rezar muito por mim.
E acender uma vela em forma de mama.
Também ele já teve um cancro e curou-se. Por isso, usa frequentemente a expressão "ter um cancro é como limpar o rabo a bebés". Desagradável, portanto.
Disse-me que quando chegar ao santuário vai rezar muito por mim.
E acender uma vela em forma de mama.
21 de Dezembro de 2009 - 2ª parte
O meu pai teve um acidente. Ele está bem, felizmente. O carro vai para a sucata.
Começo a ficar um bocado farta destas merdas.
Começo a ficar um bocado farta destas merdas.
21 de Dezembro de 2009
O meu sobrinho tem 6 anos.
É viciado em futebol.
E na telenovela "Perfeito Coração".
Tenho que ter com ele uma conversa séria.
É viciado em futebol.
E na telenovela "Perfeito Coração".
Tenho que ter com ele uma conversa séria.
20 de Dezembro de 2009
Estou em casa há uns dias. Isto aqui é bem mais acolhedor. É só mimos. Faz-me lembrar quando era pequenina e tinha gripe. E que até nos podíamos esticar porque os nossos pais não se importavam.
Os meus pais são uns gigantes. E de tão gigantes que são conseguem tudo e não deixam que ninguém me faça mal.
Já achava isso quando era pequenina.
Agora ainda acho mais.
Os meus pais são uns gigantes. E de tão gigantes que são conseguem tudo e não deixam que ninguém me faça mal.
Já achava isso quando era pequenina.
Agora ainda acho mais.
18 de Dezembro de 2009 - 3ª parte
Iuhhhuuuuuu!
O médico jeitoso disse-me que posso ir para casa!
"Para a minha ou para a tua?", perguntei eu.
Afinal era para a minha...
O médico jeitoso disse-me que posso ir para casa!
"Para a minha ou para a tua?", perguntei eu.
Afinal era para a minha...
18 de Dezembro de 2009 - 2ª parte
Entrou por aqui disparado um médico. Perguntou-me como me sentia, levanta-me a bata e observa a mama vítima de abuso. Depois levanta do outro lado e observa-me a mama saudável. "É só para comparar", diz ele. Pois, pois. Podias ter perguntado o meu nome antes, não? A tua sorte é que és moreno. E jeitoso. E tens a voz bonita.
Desculpem. São ainda efeitos da anestesia.
Desculpem. São ainda efeitos da anestesia.
18 de Dezembro de 2009 - 1ª parte
Desde quarta que ando baralhada. Tenho dores que nunca mais acabam, quase não me consigo mexer, os velhos gritam, o tempo não passa...
Não percebo...os não católicos também vão para o inferno?
Não percebo...os não católicos também vão para o inferno?
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
16 de Dezembro de 2009 - 3ª parte
Estou numa sala de recobro. É para onde vêm os desgraçados que acabam de ser operados.
Acordei há pouco. Houve um tremor de terra. Mas o que me chateia mesmo é que tenho que levar com uma velha "nova". Partiu uma perna. Grita como se não houvesse amanhã, coitada.
Se me conseguisse mexer, partia-lhe a outra.
Acordei há pouco. Houve um tremor de terra. Mas o que me chateia mesmo é que tenho que levar com uma velha "nova". Partiu uma perna. Grita como se não houvesse amanhã, coitada.
Se me conseguisse mexer, partia-lhe a outra.
16 de Dezembro de 2009 - 2ª parte
Já é quase de noite. A cama onde estou agora fica mesmo ao lado da janela. Lá fora está tudo igual. Só cá dentro é que não.
O pior é que preciso de ir à casa-de-banho. E escusam de voltar a insistir na história da arrastadeira. Isto já é suficientemente deprimente para ainda por cima me porem a fazer xixi numa arrastadeira. "A menina não se pode levantar!". Ai não?! Isso é que era bom!
E lá vou. Semi-nua, frasco do soro pendurado, dois cateters, aos tombos da anestesia, amparada por uma enfermeira. Xixi é na casa-de-banho! E mai nada! Mas custou tanto...
O pior é que preciso de ir à casa-de-banho. E escusam de voltar a insistir na história da arrastadeira. Isto já é suficientemente deprimente para ainda por cima me porem a fazer xixi numa arrastadeira. "A menina não se pode levantar!". Ai não?! Isso é que era bom!
E lá vou. Semi-nua, frasco do soro pendurado, dois cateters, aos tombos da anestesia, amparada por uma enfermeira. Xixi é na casa-de-banho! E mai nada! Mas custou tanto...
16 de Dezembro de 2009 - 1ª parte
Acordar de uma operação não é nada espectacular.
Dores, falta de ar, um desconforto inimaginável.
Não aconselho isto a ninguém.
Dores, falta de ar, um desconforto inimaginável.
Não aconselho isto a ninguém.
15 de Dezembro de 2009 – 3ª parte
Amanhã, logo pela fresca, vou ter a minha experiência "à l'Anatomia de Grey".
Confesso que estou em fofas!
Confesso que estou em fofas!
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
15 de Dezembro de 2009 – 2ª parte
Tenho tantas horas de espera pela frente que vim munida de boa companhia. Trouxe o i-pod e o último livro do David Lodge. Se há escritor que me põe bem-disposta é ele.
Entretanto, começam os preparativos.
Numa das mãos tenho espetada uma agulha com um cateter que me dá dores de morte (mal sabia eu…).
Já fiz análises e um electrocardiograma.
A minha mama já foi vista e apalpada por uma série de gente.
Incluindo um médico e dois enfermeiros. Vá lá, nem tudo é mau.
Entretanto, começam os preparativos.
Numa das mãos tenho espetada uma agulha com um cateter que me dá dores de morte (mal sabia eu…).
Já fiz análises e um electrocardiograma.
A minha mama já foi vista e apalpada por uma série de gente.
Incluindo um médico e dois enfermeiros. Vá lá, nem tudo é mau.
15 de Dezembro de 2009 – 1ª parte
Fui hoje internada ao meio-dia. Parece-me um disparate vir para aqui um dia antes de ser operada mas os senhores dizem que é preciso. Fiquei num quarto com duas velhotas. Mas eu já sabia que isto ia acontecer. Com a sorte que eu tenho…
Uma delas é um autêntico desenho animado. Não deve pesar mais de 40 quilos, usa carrapito no topo de uma cabeça completamente branca e tem uma voz tal e qual aquela que o Bruno Nogueira faz, com o Eduardo Madureira, num dos sketchs mais engraçados dos Contemporâneos. É aquele em que eles são uns machos assim meio amaricados… pronto, é esse. A velhota fala assim! E tem ainda uma capacidade sobrenatural de produzir sons, tendo em conta o seu tamanho. São gases, lamentos… e durante a noite grita pelo marido e pela panela que está ao lume. Quando lhe pergunto se precisa de alguma coisa, diz-me, num tom de desdém, “Oh menina deixe-me dormir”.
Mas isto é tudo tão hilariante que nem me consigo chatear!
Uma delas é um autêntico desenho animado. Não deve pesar mais de 40 quilos, usa carrapito no topo de uma cabeça completamente branca e tem uma voz tal e qual aquela que o Bruno Nogueira faz, com o Eduardo Madureira, num dos sketchs mais engraçados dos Contemporâneos. É aquele em que eles são uns machos assim meio amaricados… pronto, é esse. A velhota fala assim! E tem ainda uma capacidade sobrenatural de produzir sons, tendo em conta o seu tamanho. São gases, lamentos… e durante a noite grita pelo marido e pela panela que está ao lume. Quando lhe pergunto se precisa de alguma coisa, diz-me, num tom de desdém, “Oh menina deixe-me dormir”.
Mas isto é tudo tão hilariante que nem me consigo chatear!
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
11 de Dezembro de 2009
Não quero fazer disto um diário. Nem sei bem o que quero.
É qualquer coisa que está cá dentro e que preciso expurgar.
Não tenho grande paciência para lamentações.
Por isso, e para não falar mais do assunto, digo apenas que decidi enfrentar o bicho de frente.
De caras. Como ribatejana que sou.
Sou contra as touradas mas, neste caso, gosto da analogia.
É qualquer coisa que está cá dentro e que preciso expurgar.
Não tenho grande paciência para lamentações.
Por isso, e para não falar mais do assunto, digo apenas que decidi enfrentar o bicho de frente.
De caras. Como ribatejana que sou.
Sou contra as touradas mas, neste caso, gosto da analogia.
10 de Dezembro de 2009
"Pode entrar".
Eu entrei. À minha frente tinha uma figura simpática, ternurenta até, da qual, acreditei, não poderiam sair palavras cruéis.
"Gostava de lhe dizer que isto não é nada...", disse.
"É mau?", perguntei.
"Sim", disse ela.
E num instante tudo muda.
Disse-me que tenho cancro na mama. Mas quase nem chorei...
Eu entrei. À minha frente tinha uma figura simpática, ternurenta até, da qual, acreditei, não poderiam sair palavras cruéis.
"Gostava de lhe dizer que isto não é nada...", disse.
"É mau?", perguntei.
"Sim", disse ela.
E num instante tudo muda.
Disse-me que tenho cancro na mama. Mas quase nem chorei...
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