quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ontem fui submetida a uma junta médica que avaliou o meu estado de saúde. Segundo eles, tenho uma desvalorização de 60%. Ora, isto, confesso, causa-me alguma “espécie”. Desvalorização de quê? Do corpo? Do espírito? Das capacidades intelectuais?

Senti-me um bocado como um T2 em segunda mão na margem sul a ser visto pelo senhor do banco. “Eh pá, isto tem aqui uns problemas de canalização, a pintura também não está grande coisa, sem garagem…, bom vou ter que lhe dar 60% de desvalorização em relação ao preço inicial de compra”.

É claro que agora vou ter muito mais dificuldades em arranjar quem me “compre”, metaforicamente falando, claro. De qualquer forma, é estupidamente deprimente alguém nos dizer, aos 35 anos de idade, que valemos menos 60% daquilo que valíamos. “Mas tens vantagens fiscais”, dizem algumas vozes entusiasmadas.
Pois. Preferia continuar a pagar IRS todos os anos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Tília, uma das enfermeiras que me atura nas sessões semanais de quimioterapia, emprestou-me um livro de um jornalista que passou pela experiência de ter um cancro. Seria um livro ao qual não acharia particular piada noutra qualquer fase da minha vida. Mas nesta acho. Lia ontem a seguinte frase: ”Sinto que estou a caminho de uma coisa maior na minha vida. Mas para lá chegar terei que passar por um grande sofrimento”.

Há dias em que é isto que sinto também. O que é estranho porque se há coisa que eu aprendi foi a não fazer planos. Normalmente, falham todos. Desisti de os fazer. Que coisa é esta maior para a qual caminho? Não sei… sei que ela vai lá estar. Quando e se chegar ao fim da tormenta.

Quem passa pela tortura de ter um cancro merece um prémio. Sem falsos pretensiosismos. E esse prémio pode bem ser a coisa maior que já nos aconteceu na vida.